sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Balões, 1

McEwan e Julian Barnes usam uma mesma referência - ainda que o uso feito por McEwan seja bastante indireto, limitando-se à ilustração da capa da primeira edição de Enduring Love. Em Altos voos e quedas livres, Barnes faz o seguinte comentário à imagem em questão, de autoria de Odilon Redon:

Mas o artista que fez a imagem mais atraente de balonismo foi Odilon Redon, e ele divergiu. Redon tinha visto O Gigante [o balão de Nadar] voando e também o "Grande Balão Cativo" de Henri Giffard, que brilhou nas Exposições de Paris de 1867 e 1878. Nessa segunda data, ele fez um desenho a carvão chamado Balão Olho. À primeira vista, ele parece apenas um truque visual: a esfera do balão e a esfera do olho estão fundidas formando uma só, enquanto uma grande órbita paira sobre uma paisagem cinzenta. O balão olho está com a pálpebra aberta, de modo que os cílios formam uma franja ao redor do topo do dossel. Pendurado no balão há um cesto onde uma figura hemisférica está agachada: a parte de cima de uma cabeça humana. Mas o tom da imagem é novo e sinistro. Não poderíamos estar mais distantes dos sentidos figurados normalmente utilizados para o balonismo: liberdade, exaltação espiritual, progresso humano. O olho eternamente aberto de Redon é profundamente perturbador. O olho no céu; a câmera de segurança de Deus. E aquela cabeça humana nos convida a concluir que a colonização do espaço não purifica os colonizadores; o que aconteceu foi apenas que nós levamos nossa imoralidade para um outro lugar. (tradução de Léa Viveiros de Castro, Rocco, 2014, p. 30-31).

Nenhum comentário:

Postar um comentário