terça-feira, 23 de dezembro de 2014

As invasões bárbaras (1)

1) Um primeiro ano, um primeiro evento: 1492, a expulsão dos judeus da Espanha - eles se espalham pela Europa e levam junto um sistema de leitura e interpretação, a Cabala (foi por conta dessa expulsão que a família de Elias Canetti foi parar na Bulgária, por exemplo). 
2) Por que a insistência de Walter Benjamin na junção conflituosa entre revolução materialista e messianismo? Talvez um exemplo histórico da possibilidade de tal junção esteja dado na repercussão dessa expulsão de 1492.
3) Foi Aby Warburg quem primeiro solicitou Lutero não apenas como uma figura-chave na história da religião, mas também figura-chave na história da arte e da arte política. Warburg percebe que em Lutero a potência da revolução está diretamente ligada a uma potência da leitura e da interpretação.
4) Frances Yates (The Occult Philosophy in the Elizabethan Age, 1979) segue a pista e amplia o foco: ela cita diretamente a expulsão de 1492, argumentando que ao longo de toda a Europa passa a operar uma mescla muito particular entre cabalistas e neoplatônicos (Pico della Mirandola, Marsilio Ficino), o que redunda no desenvolvimento de uma Cabala cristã - um sistema híbrido de leitura e interpretação que alimentará a Reforma.
5) Yates mostra que se trata de pelo menos dois grandes campos de investigação sobrepostos: em primeiro lugar, a expulsão de 1492 e a dinâmica de proliferação da Cabala como consequência (adaptações linguísticas e conceituais no tempo e no espaço); em segundo lugar, a distribuição desses indivíduos expulsos ao longo da Europa, acionando a questão Norte x Sul, central em toda a produção de Warburg (Dürer x Da Vinci; traço x cor; etc).

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