quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sontag e seus diários, 1

Breve trecho das pernas de Susan Sontag sob sua mesa de trabalho
1) Susan Sontag em seus diários: sempre fazendo listas de leituras, de obras a comprar, de livros emprestados, de autores, filósofos e romancistas a dar conta, nomes de livros e filmes riscados, indicando que foram lidos ou vistos e, principalmente, muitos comentários e acréscimos - Sontag lia a si própria, lia seus apontamentos, corrigia, ressaltava, reforçava. Listas de palavras, listas de nomes, listas das melhores atitudes em situações específicas. Livros de literatura apenas lançados ao lado dos Ensaios de Montaigne, ou de tratados de filosofia, ou obras historiográficas sobre Lutero ou sobre Cartago.
2) O método onívoro sempre esteve com ela, desde muito cedo - talvez uma tentativa de estar sempre armada, sempre preparada para qualquer situação, para qualquer lugar (mudanças foram comuns na infância). Nos ensaios de Contra a interpretação, por exemplo, livro que reúne seus escritos do ínicio da década de 1960, é difícil encontrar algum que não comece com o estabelecimento de uma lista rigorosa daquilo que o artista em questão produziu até o momento. Isso acontece quando Sontag escreve sobre Cesare Pavese, Robert Bresson, Godard, Resnais, Camus e, como apontado anteriormente, também em seu texto sobre Claude Lévi-Strauss, "O antropólogo como heroi".
3) Sontag não é digressiva, muito pelo contrário: ela estabelece um campo sólido de referências a partir das quais pode levantar suas hipóteses e marcar seus juízos (parte do apelo de seus ensaios está justamente em suas frases diretas, como "A grande arte da reflexão não é frígida", ou "A maior parte da produção intelectual de nosso tempo luta com o sentimento do desamparo"). Método que ela encontra também em Lévi-Strauss, e que comenta em seu ensaio. E, ao mencionar Freud (e também Marx) como referência para Lévi-Strauss, Sontag também indiretamente reforça sua própria filiação, acrescentando mais uma camada a essa conturbada mescla de autobiografia, formação estética e reflexão filosófica que abarca não só a escrita dos diários, mas a relação destes com os ensaios que ela escrevia na mesma época.      

Nenhum comentário:

Postar um comentário