segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A história analógica de Valéry

Degas, Intérieur, 1869
1) Paul Valéry, em Degas Dança Desenho, fala de uma "história única das coisas do espírito", que substituiria a autonomia das diversas histórias - história da filosofia, da arte, da literatura, das ciências.  Em outras palavras, a possibilidade de remontar peças heterogêneas a partir de um fio narrativo subjetivo (uma subjetividade, no entanto, que está em irremediável contato com a dimensão anônima do arquivo).
2) A partir daí, e tendo Degas em mente, Valéry dá apenas um exemplo disso que também chama de "história analógica", ou seja, uma historiografia digressiva, associativa, especulativa. Em tal contexto, escreve Valéry, "Degas estaria entre Stendhal e Mérimée", a palavra atravessada na imagem e a história da arte incorporada à história da literatura. Com essa aproximação, Valéry reforça aquilo que afirma em um texto sobre Stendhal, de 1929: Stendhal é infinito, e isso, para mim, é o maior elogio
3) Valéry fala também da vocação de "solitário sem remorso" de Degas - seu apego à cidade, em um momento em que os colegas pintores procuravam, cada vez mais, o contato com a "natureza" no interior da França. Degas procurava os bastidores, o ensaio, a preparação - e neste ponto a "história analógica" poderia aproximar Degas e Barthes, o Barthes da "preparação do romance", dos bastidores da escritura e da arte, daquilo que se acumula de forma prévia e que também é responsabilidade da crítica, da criação. 

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