sábado, 6 de agosto de 2011

Diante de Puig, 2

1) O personagem mais inquietante de The Buenos Aires affair é Leo Druscovich, o crítico de artes plásticas. Há um extenso capítulo do livro dedicado a uma retrospectiva de sua vida, desde a infância. Especialmente em The Buenos Aires affair fica bem clara a habilidade com que Puig consegue articular formas atípicas de narração [conversas telefônicas, entrevistas imaginárias, consultas médicas, relatórios policiais] com um conteúdo dinâmico e esteticamente muito forte. Mais adiante, quando o sadismo de Druscovich começa a ficar mais consciente e sistematizado [quando ele começa a arquitetar situações de violência], sua infância, tão bem construída por Puig no capítulo 6, incomoda.
2) Leo brinca com sua irmã Olga, sete anos mais velha. Sua brincadeira favorita, escreve Puig, consiste no seguinte: Olga dizia 'era uma vez uma formiguinha que ia passeando, passeando...' e, com as pontas dos dedos indicador e do médio, tamborilava desde o punho até a axila do menino e lhe fazia cócegas ali. Mas esse era apenas o começo, continua Puig, porque a culminação da brincadeira acontecia quando, depois de uma pausa, a "formiguinha" descia para o pé e subia pela perna de Leo, até chegar à rósea virilha infantil, onde as tamboriladas se multiplicavam e Olga exclamava '...e a formiguinha encontrou um ratinho e fugiu assustada...', depois do que seguiam cócegas na barriga, '...mas logo a formiguinha voltou e viu que não era um ratinho, era um sininho, e começou a puxar o sininho, tlim, tlim...', e Olga puxava o diminuto membro viril, fazendo o menino rir convulsivamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário