segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Saer e Magris, 5

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1) Em Saer, a relação do caminhante com a geografia e o rio é também fundamental. Ao passo que para Magris a errância aparece como um elemento cultural positivo, e determinante para muitos escritores (Joseph Roth, por exemplo), principalmente quando Magris encontra, no museu de uma minúscula cidade, uma representação dos sapatos do Judeu Errante, Saer, ao contrário, sublinha a relação do gaúcho e do índio com o cavalo, principal meio de transporte e de segurança diante da planície infinita, ressaltando, também, que a pior condição possível para um homem era estar a pé. Lembremos da célebre trilogia do gaúcho a pé, de Cyro Martins (Sem rumo (1937), Porteira fechada (1944) e Estrada nova (1954)).
2) O cavalo era fundamental para percorrer o rio da Prata por conta do vazio da geografia: não havia nada, semanas de jornada sem qualquer mudança na paisagem (como o próprio Saer mostra no romance As nuvens). Tanto Magris quanto Sebald, e o Thomas Bernhard de Perturbação (livro no qual o narrador acompanha o pai, médico itinerante, nas cidadezinhas austríacas), apresentam caminhantes que encontram uma geografia completamente diversa, irregular e povoada, heterogênea, marcada pela história e pelos fluxos migratórios.
3) Em situação semelhante à de Saer em El río sin orillas está o Cormac McCarthy de Meridiano sangrento: lá os índios também aprendem a andar a cavalo (escondidos no flanco do animal, atacando de surpresa) e o oeste só faz sentido ao homem provido de sua prótese animal – o homem a pé morre de fome, de sede e de insolação.
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